Penamacor

A VILA MADEIRO QUE DEFENDEU PORTUGAL

Por ser «a vila madeiro», Penamacor tem sabido manter uma antiga tradição de Natal. Desta forma, envolve as novas gerações e convida os turistas a juntarem-se à festa.

No entanto, esta bonita vila do interior de Portugal é também uma terra de fronteira. Por isso, durante muito tempo esteve remetida ao isolamento. Cntudo, nos últimos anos, uma vaga de cidadãos europeus trouxe nova vitalidade.

Junto à Serra da Malcata, Penamacor mantém as marcas da sua história. Envolve Romanos, Templários e Judeus. Conheça esta bonita vila, mesmo à beirinha de Espanha.

O BRITISH ACCENT QUE TROUXE NOVA VIDA A PENAMACOR 

Em tempos, Penamacor foi um concelho envelhecido, sob a ameaça da desertificação. No entanto, nos últimos anos passou a atrair muitas famílias estrangeiras. São europeus, sobretudo britânicos, e decidiram fixar-se nesta região. Com efeito, a saída do Reino Unido da União Europeia foi o mote para boa parte destas movimentações. Assim sendo, os britânicos já representam parte significativa da população de Penamacor. Mas, acima de tudo, vieram dar vida ao interior raiano.

Escola Internacional de Penamacor

Escola Internacional de Penamacor

Para assegurar a educação das crianças bilingues, nasceu em Penamacor uma Escola Internacional. O projeto partiu da britânica Zoe Burgess, que se mudou com a família para esta região. De igual forma, muitas outras famílias têm vindo. Procuram menos stress e mais espaço a preços acessíveis. Em regra, querem uma nova vida, seja em idade ativa ou na reforma. Com a vantagem de continuarem a ser cidadãos da União Europeia.

Instalada no antigo externato Nossa Senhora do Incenso, a escola abriu portas em 2017. O resultado de uma parceria com a autarquia local. A par das disciplinas básicas, os alunos podem ter atividades à escolha, como a costura ou o yoga. E não há exames, porque o método de ensino aposta na personalização da aprendizagem. Sendo aberta a todos, a escola integra alunos de diferentes nacionalidades. Incluindo portugueses, claro. 

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UMA TRADIÇÃO NATALÍCIA QUE SE MANTÉM ACESA

Demasiadas vezes, os locais perdem as suas tradições. Ou então, quando a afluência de visitantes é grande, transformam-nas em mera rentabilidade económica. Nestes casos, inevitavelmente, perde-se a autenticidade. A festa passa a ser feita a pensar nos que vêm de fora, e no retorno que podem trazer.

Contudo, nas localidades que não padecem de invasões de turistas, a autenticidade persiste. Sente-se no ar que respiramos. No olhar das pessoas que se mantiveram fiéis àquele meio pequeno. A festa é feita a pensar nos da terra. Pelos bons momentos juntos, e perpetua algo que já existia quando nasceram. Ainda assim, os de fora são bem vindos.

Em Portugal, o turismo massivo mantém-se restrito a meia dúzia de locais. Por isso, a esmagadora maioria do território mantém a sua autenticidade. E acolhe os de fora como exceções que são bem-vindas. Penamacor é um desses felizes exemplos.

A tradição, neste caso, é a queima do Madeiro, todos os anos pelo Natal. Uma fogueira monumental, que arde no adro da Igreja. Durante dias. o seu calor aquece a época natalícia de todos os que ali vivem. E dos que por ali passam.

O RITUAL DOS 20 ANOS

Em cada ano, o Madeiro fica a cargo dos jovens da terra, que nasceram vinte anos antes. Em 2020, cumprir a tradição coube aos que nasceram em 2000, e por aí afora.

Deste modo, os mais jovens esperam com ansiedade pelo seu ano. Alguns deles são filhos de emigrantes, mas fazem questão de participar quando chega a sua vez. Os pais, orgulhosos, acompanham e ajudam. 

Inicialmente, a tradição do Madeiro era exclusiva dos rapazes. Contudo, hoje em dia a «Malta do Ano» já inclui raparigas. Ainda assim, embora ajudem na recolha, elas tratam sobretudo das artes culinárias da festa. Afinal, os dias são longos e duros no campo, a arrancar e cortar as árvores.

Logo desde janeiro, os jovens do ano asseguram a matéria-prima. Pedem-na aos proprietários da região, e muitos colaboram. Assim, em dezembro, a (enorme) quantidade de madeira estará à altura da tradição.

Solidários, os proprietários, tratoristas e maquinistas ajudam a reunir a madeira. Afinal, também eles já tiveram essa missão. Oferecem árvores secas, ou maquinaria para as arrancar e transportar. Antigamente, a tarefa era mais difícil e morosa, à mão ou com máquinas menos ágeis.

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PENAMACOR: A VILA COM O MAIOR MADEIRO DE PORTUGAL

A 7 dezembro, é altura de abater as árvores secas e de cortar os troncos. Serão depois acesos, no adro da igreja, a 23 de dezembro.

Em regra, a chegada do madeiro ao centro da vila é feita com pompa e circunstância. Os tratores que transportam a madeira trazem também, empoleirados, os alegres patronos desse ano.

Nessa altura, toneladas de madeira são empilhadas e acesas no adro da Igreja. Renova-se assim, a cada ano, uma antiga tradição. O maior madeiro de Portugal arde entre a véspera de Natal e o Dia de Reis. Já sabe, estamos todos convidados a aquecer-nos nesta tradição de Penamacor. Uma tradição replicada em muitas aldeias do concelho.

Afaste-se das multidões e percorra o Portugal mais autêntico

Penamacor é uma bonita vila do interior raiano de Portugal. Vizinha de Espanha e da Serra da Malcata, território do Lince Ibérico, no Natal acende a maior fogueira do país. Embora haja muito para descobrir sobre o seu passado, Penamacor tem uma história antiga, feita de Templários e Judeus refugiados. 

DEPOIS DO ABANDONO, A VALORIZAÇÃO

Quando nos aproximamos de Penamacor, sobressai no horizonte a imponente Torre de Menagem. Atualmente restaurada, fica no topo de um dos montes que a vila ocupa. Era esta a zona mais antiga do povoado. 

Penamacor testemunhou o início da formação de Portugal. Junto à fronteira, esteve envolvida em muitas disputas. No entanto, sobreviveu para nos contar a sua história. Esta e outras, ainda mais antigas.

Ao subir a colina ocupada pelo antigo burgo, deparamo-nos com a antiga muralha. Embora esteja incompleta, percebe-se que era imponente. A muralha está ligada à Torre do Relógio, que se pensa ser do século XIV ou XVI. Para entrar no centro histórico, passamos por uma porta na muralha. Por cima desta, fica a antiga Casa da Câmara

Atualmente restaurada, é uma das obras que têm vindo a preservar a zona histórica de Penamacor. Em redor, na antiga cidadela, vemos (finalmente) outros restauros. Casas, muros e pavimentos estão, aos poucos, a recuperar o passado.

A HISTÓRIA DE PENAMACOR EXPOSTA DENTRO DE PORTAS

Em Penamacor, diferentes espaços museológicos partilham com os visitantes o seu passado longínquo. Desde logo, destaca-se o Museu Municipal, no Largo Tenente Coronel Júlio Rodrigues da Silva. Instalado num antigo quartel, foi criado em 1949 por um entusiasta da história local, Mário Pires Bento.

Mais tarde, em 1982, o museu ganhou nova importância com outro estudioso do património da região, Aristides Galhardo Mota. Desta forma, hoje podemos conhecer facilmente o passado desta antiga vila. Desde moedas a armas de fogo, são muitas as peças expostas no Museu. Em suma, mostram como viviam, trabalhavam, comercializavam e combatiam os antigos habitantes de Penamacor. 

Para ilustrar a fauna local, o Museu inclui ainda diferentes animais embalsamados. Aves de grande e pequeno porte, texugo, raposas e até o lince ibérico. O exemplar exposto foi, infelizmente, vítima de um atropelamento acidental.

 

PERCORRA AS RUAS E DESCUBRA O PATRIMÓNIO HISTÓRICO DE PENAMACOR

Ao percorrer a vila, dois monumentos dão nas vistas pela imponência. Com efeito, um deles é o antigo convento de Santo António, fundado em 1571 pelos frades capuchos franciscanos.

Situado na Rua Adelino Ferreira Galhardo, convida a visitar a bonita igreja e ainda o claustro. O outro monumento é o antigo convento de Santo Estêvão. Hoje em dia, está ao serviço da Santa Casa da Misericórdia.

Destacam-se ainda as igrejas de São Tiago e da Misericórdia, ambas do século XVI. À porta da igreja da Misericórdia, funcionou até ao primeiro quartel do século XX, a roda dos expostos. Tal como em outros pontos do país, recebia de forma anónima as crianças enjeitadas pelos pais e pela pobreza.

DOS TEMPLÁRIOS AOS JUDEUS

Situa-se a cerca de 700 metros de altitude e a menos de 20km de Espanha. Por isso, em Penamacor teve um dos mais poderosos castelos das Beiras. A par disso, é também um dos mais antigos. Assim, a estrutura original desta fortaleza data de 1184. Com efeito, o responsável foi Gualdim Pais. Na menos do que um mestre Templário. A par disso, um camarada de armas do primeiro rei de Portugal.

No século XV, as perseguições aos judeus em Espanha trouxeram muitas famílias a Penamacor. Desta forma, procuravam um refúgio seguro.

Sem certezas, pensa-se que a antiga judiaria de Penamacor se situava nas cercanias do castelo. Em algumas portadas e paredes, ainda se distinguem marcas cruciformes. Com é sabido, assinalavam as moradias de judeus.

Em 1496, o rei D. Manuel proclamou a expulsão ou conversão forçada dos judeus ao cristianismo. Contudo, muitos mantiveram a sua fé em segredo. Embora fossem apelidados de «cristãos novos», na verdade eram criptojudeus. Em segredo, mantinham o seu culto original. Isolados do resto do mundo judaico, acreditavam ser os únicos com esta fé. Uma verdade escondida, desvendada em Belmonte, já no século XX. 

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Ribeiro Sanches

Ribeiro Sanches

O MÉDICO DE PENAMACOR QUE CHEGOU À CORTE RUSSA

Em Penamacor, nasceu uma figura importante da história de Portugal. Por isso, queremos lembrar Ribeiro Sanches. Filho de Ana e Simão Nunes, viveu entre 1699 e 1783. Inteligente e estudioso, passou pela universidade de Coimbra mas formou-se em Medicina em Salamanca.

Nascido num antigo bairro judaico de Penamacor, perto do castelo, era acusado de ser judeu. De facto, os registos confirmam. Os seus pais foram condenados pela Inquisição a renegar publicamente a sua fé.

Neste panorama, António Nunes Ribeiro Sanches saiu de Portugal aos 27 anos. Inicialmente, rumou a Londres. Ali exerceu Medicina, sobretudo para judeus de origem portuguesa. Seguiu depois para França, Bélgica e Holanda. Neste país, foi convidado para trabalhar em Moscovo. Notabilizou-se como Médico do Exército, durante a guerra da Crimeia, e do Corpo Imperial dos Cadetes. Pelo seu prestígio, foi médico da corte e da Czarina regente, Ana Ivanovna.

O REGRESSO A PARIS E A PÁTRIA MADRASTA

No entanto, no reinado seguinte, devido às suas origens judaicas, retiraram-lhe o estatuto que tinha. Regressou então a Paris, o ambiente natural do seu espírito iluminista. Médico respeitado, coube-lhe escrever sobre doenças venéreas para a prestigiada Enciclopédia de Diderot.

Entre as muitas obras que publicou, conta-se Dissertation sur la Maladie Vénérienne. Ou ainda Tratado da Conservação da Saúde dos Povos. Escreveu também Cartas sobre a Educação da Mocidade e Método para Aprender e Estudar a Medicina. Entre outras.

Ribeiro Sanches faleceu em Paris a 14 de outubro de 1783. Infelizmente, com dificuldades financeiras. Em tempos, tentara vender a sua preciosa biblioteca ao estado português. Mas em vão. O Marquês de Pombal terá alegado que livros, já havia cá muitos. Ainda assim, este médico ilustre, natural de Penamacor, foi um dos sábios iluministas da Cidade das Luzes.

A NÃO PERDER EM PENAMACOR

Torre de Menagem de Penamacor

Um ponto de vigia sobre Espanha

Antiga Casa da Câmara de Penamacor

A porta de entrada na zona antiga

Torre do Relógio de Penamacor

Torre do Relógio

Século XIV ou XVI

Torre do Relógio de Penamacor

Museu Municipal de Penamacor

Um resumo da história

Torre do Relógio de Penamacor

Convento de Santo António

Visite o claustro e a igreja

Torre do Relógio de Penamacor

Igreja Matriz de São Tiago

Largo 5 de outubro

ESTAMOS NO TERRITÓRIO NATURAL DO LINCE IBÉRICO

Pertencente ao distrito de Castelo Branco, a vila de Penamacor mantém-se discreta. No entanto, surpreende quando olhada mais de perto. A par do património histórico e humano, é enorme a sua riqueza natural.

Lince - Imagem de jmucendo por Pixabay

Venha de férias em qualquer atura do ano, alugando um quarto ou uma casa típica. Se for amante do campismo, traga a tenda ou a caravana. Pode escolher entre o Parque do Freixial e o Parque de Idanha a Nova. Ambos são municipais, e estão situados junto à água. No Freixial, corre o rio Bazágueda. Já o Parque de Idanha está à beira da Barragem Marechal Carmona.

No verão, pode ainda refrescar-se em outras praias fluviais da região. É o caso das Moinho, de Meimão e ainda de Meimoa, onde existe uma ponte romana.

Aproveite para descansar, (esperamos que tenha metido um livro na bagagem) e aprecie a paisagem. Quando tiver novamente energia, calce as botas e prepare-se para uma caminhada. Entre Penamacor e o Sabugal, está a Reserva Natural da Serra da Malcata.

Fundada em 1981, é o habitat privilegiado do Lince Ibérico, que aqui tem vindo a ser protegido e preservado. Afinal, é uma espécie em vias de extinção. Se tiver sorte, pode ser que consiga avistar um destes felinos. Já agora, conduza devagar nas estradas da reserva, para não atropelar nenhum. Tenha também cuidado com os javalis, que gostam de se alimentar junto às estradas. Por tudo isto, faça-se à estrada e boa viagem!

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