BRAGANÇA, O RECANTO MAIS LONGÍNQUO DE PORTUGAL
Bragança situa-se no extremo nordeste de Portugal, na antiga província de Trás os Montes e Alto Douro. É a capital do distrito mais recôndito do país, e faz fronteira com Espanha.
Pela sua localização e perfil montanhoso, esta é uma região que muitos portugueses desconhecem.
Situada na mais periférica zona do reino, a cidade de Bragança é fundada em 1187, no reinado de D. Sancho I, o segundo rei de Portugal. A par disso, foi aqui que teve origem uma das mais importantes linhagens reais portuguesas, a casa de Bragança.
VÍDEO: Município de Bragança
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«PARA LÁ DO MARÃO, MANDAM OS QUE LÁ ESTÃO»
No título deste texto, temos um ditado popular português. Para lá do Marão mandam os que lá estão. De facto, o ditado traduz bem a visão nacional sobre as terras transmontanas. Com efeito, por se situar no nordeste do país, a serra do Marão é uma espécie de muralha natural. Na prática, separa os distritos de Vila Real e Bragança do resto do país.
Mesmo junto a Espanha, esta é uma região marcada pela alta montanha e os acentuados declives. Nas encostas, a agricultura desce até às margens do rio Douro, que chega a Portugal vindo do país vizinho.
Com este perfil geográfico, as vias de acesso sempre foram difíceis de criar e percorrer. Por isso, desde há muito que a vida das populações é marcada pelo isolamento e pela auto-suficiência. Tanto na agricultura como na pastorícia. Assim, as estradas fazem-nos ziguezaguear pelas montanhas, uma oportunidade para apreciar as belíssimas paisagens, ao longo do trajeto.
Se observar com atenção, vai reparar que a inclinação das encostas é cortada em socalcos sucessivos, para facilitar o cultivo. Fazendo parte da Região Demarcada do Alto Douro, a cultura da vinha é parte integrante desta paisagem, e aqui se produzem os mundialmente famosos vinhos do Douro, inclusive o icónico vinho do Porto
Efetivamente, Bragança é a cidade capital de distrito mais a nordeste, nesta região. Por esse motivo, é a cidade mais recôndita do país. Encaixando-se entre as serras da Nogueira e de Montesinho. situa-se a quase 500 quilómetros de Lisboa. Por outro lado, fica a mais de 700 quilómetros de Faro, no Algarve.
O QUE NÃO PODE PERDER EM BRAGANÇA
Sendo Bragança uma cidade fronteiriça, foi alvo de muitas disputas e destruições e, na verdade, nem sempre tomou partido pelo lado português. O seu castelo sofreu, por isso, ataques e reconstruções, ao longo dos séculos. Hoje, é um dos mais bem preservados do país.
Com a fundação da cidade por D. Sancho I, em 1187, o castelo foi também erguido em terras que haviam sido deixadas como herança por sua tia, D. Sancha, ao Mosteiro de Castro de Avelãs, ali próximo. D. Sancha era irmã de Afonso Henriques, e havia sido casada com Fernão Mendes, o Braganção.
Sobranceiro ao rio Fervença, o castelo de Bragança beneficiou de um substancial reforço no início do século XV, por iniciativa de D. João I, o Mestre de Avis, cujas armas são exibidas numa das faces da Torre de Menagem.
Na década de 60 do século XX, o castelo sofreu novas intervenções de relevo, à luz de achados das estruturas anteriores. Viaje no tempo ao percorrer as suas muralhas com quinze torres e três portas, e suba à torre de Menagem, com 33 metros de altura. Se tem crianças, com certeza elas vão adorar, e a vista lá de cima é deslumbrante.
No interior da Torre de Menagem, está instalado o Museu Militar, fundado em 1932 pelo coronel António José Teixeira, comandante do Regimento de Infantaria nº 10, que antigamente se encontrava instalado na cidadela. No Museu Militar do Castelo de Bragança, encontra peças de uso militar desde o século XII ao século XX.
DOIS EX LIBRIS DE BRAGANÇA
Outro dos ex libris do castelo de Bragança é a Torre da Princesa, onde, segundo reza a lenda, teria estado presa uma princesa desafortunada. Lendas à parte, hoje em dia a muralha circunda o casario medieval, e alberga no seu interior a bonita igreja de Santa Maria, na Rua da Cidadela. Construída originalmente no século XIV, é a igreja mais antiga de Bragança, e também conhecida como a Igreja de Nossa Senhora do Sardão. Ao longo dos séculos, a sua requalificação deu-lhe uma aparência entre os estilos românico e barroco, ostentando uma entrada decorada com folhas de videira e cachos de uva.
Ao lado, situa-se o Domus Municipalis, que se pensa ter sido construído na primeira metade do século XV. Em estilo românico, do período medieval tardio, é um exemplar de características únicas em Portugal, com um formato pentagonal irregular e arcadas no piso superior. No interior, este invulgar edifício incorpora uma cisterna e um salão iluminado pelas janelas das arcadas, havendo a toda a volta um banco corrido. Segundo se pensa, este seria o espaço onde se realizariam as reuniões ligadas à administração local, função que manteve até ao século XIX. Depois de um período de abandono, foi restaurado nos anos 20 do século passado.
Do património arquitetónico e histórico de Bragança fazem ainda parte a Sé quinhentista, a românica Igreja de São Vicente, do século XIII, ou ainda as Igrejas de São Bento e de Santa Clara, ambas do século XVI. Como herança do século XVII, chegaram até nós a monumental Igreja de São Francisco e a Capela da Misericórdia.
INDÚSTRIA DA SEDA E MÁSCARAS IBÉRICAS
Desde há muito que Bragança assumiu o papel mais relevante entre as cidades transmontanas e, entre os séculos XV e XIX, foi mesmo um importante centro de produção e exportação de seda. No entanto, esta indústria entrou em declínio, e hoje apenas resta à cidade contar a sua história.
Para conhecer o processo de produção deste tecido nobre, visite na Casa da Seda, na Rua dos Batoques, um dos espaços da cidade que fazem parte do Centro Ciência Viva.
Outro museu que distingue a cidade de Bragança, e que com certeza vai agradar aos mais novos, é o Museu Ibérico da Máscara e do Traje, na Rua D. Fernão, O Bravo. Inaugurado em 2007, partilha com os visitantes as máscaras, trajes e objetos utilizados nas chamadas Festas de Inverno típicas das regiões do interior peninsular de Trás os Montes e da vizinha Zamora, em Espanha.
Coloridos e irrequietos, os Caretos são talvez a mais conhecida destas tradições. Ainda hoje é uma tradição bem viva, que atrai muitos visitantes. Com efeito, no Carnaval, estas personagens de origem céltica saem à rua na aldeia de Podence. Na sua folia, vão «chocalhar» os foliões que festejam o Entrudo.
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DE BRAGANÇA PARA O MUNDO: A ARTE CONTEMPORÂNEA DE GRAÇA MORAIS
A par da sua longa história, Bragança conta com um espaço único que celebra e divulga a modernidade, neste caso na área artística: o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, na Rua Abílio Beça.
Graça Morais é uma das mais proeminentes pintoras portuguesas, com obra reconhecida aquém e além fronteiras. Nascida em 1948, a sua origem é transmontana, de uma aldeia do concelho de Vila Flor, e por isso Bragança, a capital do distrito, lhe presta esta homenagem.
Assim, o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais retrata a obra da artista, que já viveu em diferentes países e expôs o seu trabalho um pouco por todo o mundo, de Paris a São Paulo passando por Macau.
Com uma vida inteiramente dedicada às artes, o seu talento traduz-se em pinturas, tapeçarias de Portalegre, painéis de azulejo, cenografia, figurinos e ilustração de livros, para autores de referência como Saramago, Alçada Batista ou Sophia de Mello Breyner.
Contudo, o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais vai muito além de partilhar a obra da pintora. A par da sua exposição permanente, o Centro oferece aos visitantes exposições temporárias, colóquios, atividades para os mais novos, visitas, formação e oficinas, e ainda eventos que promovem a cultura judaica, que marcou uma forte presença nesta região.
Sem dúvida, este é um espaço único no país que, para os amantes das artes, é um excelente motivo para descobrir Portugal for
O ABADE-ARQUEÓLOGO DE BAÇAL
Se visitar Bragança, reserve ainda tempo para conhecer o antigo Paço Episcopal, na Rua Abílio Beça, onde está instalado o Museu Regional do Abade de Baçal. Criado em 1915, homenageia um homem erudito de Bragança, Francisco Manuel Alves, o abade da aldeia de Baçal, que viveu entre 1865 e 1947.
Filho de agricultores, estudou Teologia no Seminário de Bragança, tendo sido ordenado em 1889. Após um período como pároco, assumiu o cargo de abade em Baçal, e aproveitou o tempo livre para se dedicar ao estudo da região. Na altura, desbravou áreas então desconhecidas, e tão diversificadas como a arqueologia, etnografia, numismática ou paleografia.
Desta forma, o abade de Baçal tornou-se uma figura ímpar do saber sobre a região transmontana. Mais do que isso, entre 1925 e 1935 teve a seu cargo a direção do museu regional de Bragança, que entretanto adotou o seu nome. Nessa qualidade, Francisco Manuel Alves foi responsável pela angariação de boa parte do espólio que hoje podemos conhecer neste espaço. Com efeito, o acervo do Museu Regional do Abade de Baçal cobre a história da região desde o paleolítico, incluindo peças como achados pré-históricos e romanos, instrumentos agrícolas, mobiliário, numismática , ourivesaria ou pintura.
A DESCOBRIR NA CIDADE DE BRAGANÇA
OS DUQUES DE BRAGANÇA
No passado, a cidade de Bragança deu nome a um dos principais ducados de Portugal. Com efeito, foi concedido a uma família que teve uma importância ímpar na História de Portugal. Assim, o 1º Duque de Bragança foi D. Afonso, filho bastardo do rei D. João I. Com efeito, o rei legitimou este filho bastardo para que casasse, em 1401, com uma importante herdeira. Ou seja, D. Beatriz, a única filha do Condestável do Reino, D. Nuno Álvares Pereira.
Efetivamente, D. Nuno foi o segundo Condestável do reino de Portugal. Na prática, tinha a seu cargo toda a liderança militar. Mais do que isso, o Condestável tinha um papel fulcral na defesa do território. Por essa razão, as riquezas que D. Nuno Álvares Pereira acumulou fizeram dele o segundo homem mais poderoso do país. Logo a seguir ao rei.
De facto, o plano inicial seria que D. Beatriz casasse com o herdeiro do trono, D. Duarte. Porém, o pai da jovem preferiu casá-la com o filho bastardo do monarca. Possivelmente, teria o intuito de evitar que os seus bens se fundissem com os da coroa. Em vez disso, fundou uma casa senhorial que viria a perpetuar a sua linhagem.
Por conseguinte, para abençoar a união, o rei D. João I atribuiu a D. Afonso e D. Beatriz o título de Duques de Bragança. Deste modo, iniciava-se a mais rica e proeminente dinastia nacional.
A DINASTIA QUE SUBIU AO TRONO
Os primeiros duques de Bragança preferiram viver no norte, nomeadamente em Chaves. Contudo, os seus descendentes preferiram fundar os seus palácios em outras cidades. É o caso de Guimarães e de Vila Viçosa, no Alentejo, onde está o panteão de toda a família.
No entanto, a riqueza dos Duques de Bragança fazia sombra à dos próprios monarcas, e o 3º Duque de Bragança, D. Fernando, acabou por ser degolado, em Évora, a mando do rei D. João II, que se apropriou dos seus bens.
Contudo, o monarca que lhe sucedeu, D. Manuel, declarou nula a sentença e restabeleceu a Casa de Bragança, em 1500, restituindo a 4º Duque de Bragança, D. Jaime, todas as propriedades e títulos.
A partir de 1640, a história desta família confunde-se com a da monarquia portuguesa, pois o 8º Duque de Bragança tornou-se o rei D. João IV, em 1640, restituindo assim o trono a um português após o domínio espanhol. Foi o rei que restaurou a independência de Portugal.
A partir de então, e até ao fim da monarquia, em 1910, todos os reis de Portugal pertenceram à Casa de Bragança. Tem sede no Paço de Massarelos, em Caxias (Lisboa), e administra diversas propriedades, entre elas o Paço Ducal de Vila Viçosa, e os castelos de Vila Viçosa, Alter do Chão, Alvito, Ourém e Portel.
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Imagens: Câmara Muncipal de Bragança.