Mosteiro de Castro de Avelãs

UM MISTÉRIO POR DESVENDAR

A 5 minutos de Bragança, existe um dos Monumentos Nacionais mais emblemáticos e discretos do nordeste transmontano. Com efeito, o antigo mosteiro beneditino de Castro de Avelãs é único no país, com as suas formas arredondadas em tijolo. Porém, a sua origem permanece misteriosa, existindo a possibilidade de já existir ainda antes de Portugal ser um país.

«O ESTRANHO CASO DE UMA IGREJA DE TIJOLO»

A 5 minutos de Bragança, encontramos a pequena aldeia de Castro de Avelãs. Ainda a partir da estrada, avistamos logo o imponente mosteiro, do lado direito. Por essa razão, é fácil perceber qual a direção a tomar, para lá chegar.

Uma vez no local, percebemos que o espaço foi alvo de uma recuperação. Efetivamente, tudo está impecável, desde a casa paroquial ao estacionamento, passando pela igreja e pelo espaço verde que a rodeia.

À primeira vista, a igreja branca aparenta ser igual a tantas outras. No entanto, sabemos de antemão que não é. Para vermos porquê, é preciso contorná-la até às traseiras.

Com efeito, a configuração da cabeceira da igreja – tripartida, em formato semicircular – é um exemplar único em Portugal. Como se isso não bastasse, a construção é em tijolo, em vez de pedra, em estilo românico-mudéjar. Sem dúvida, uma opção incomum na arquitetura medieval portuguesa.

Segundo se sabe, este invulgar material seria oriundo das províncias vizinhas de Zamora e Ávila. Quanto à edificação, terá ficado a cargo de artífices leoneses, especializados neste tipo de construção. Justamente, é o que alega o historiador de arte Paulo Almeida Fernandes, do Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto. Mais precisamente, no artigo «O estranho caso de uma igreja de tijolo»,

Apesar de invulgar em Portugal, este tipo de arquitetura pode ser encontrado em diferentes localidades de Espanha. Nomeadamente, é o caso de Arévalo, Sahagún ou Toro. No entanto, desconhece-se a ligação entre estas localidades e Bragança. Afinal, não existem vestígios de presença islâmica no nordeste transmontano.

ÉPOCAS DIFERENTES E UM TÚMULO

Infelizmente, do mosteiro de Castro de Avelãs já pouco resta. Porém, o terreno adjacente revela escavações da sua antiga estrutura medieval. Contudo, resta a igreja do Mosteiro, que claramente combina construções de épocas diferentes.

Ou seja, a igreja de traça regular data do século XVIII, e foi acoplada à cabeceira original do mosteiro medieval. Até hoje, desconhece-se ao certo a sua origem, mas existem referências à sua existência desde o século XII. No entanto, existem indícios de que poderá ser ainda mais antiga. 

De decoração geométrica, com recurso a saliências, o conjunto arquitetónico do mosteiro de Castro de Avelãs configura o chamado estilo românico mudéjar. Nestas formas, notam-se reminiscências islâmicas. Infelizmente, aquando do seu abandono, o claustro da igreja foi destruído, restando apenas as suas bases.

No seu conjunto, este é um monumento bastante invulgar. Desde logo, pelos três semicírculos que formam a cabeceira da igreja – um maior ao centro e dois laterais, mais pequenos. Curiosamente, o da direita está aberto para o exterior. Presumivelmente, devido à ausência dos claustros, que se perderam, e que lhe davam continuidade.

No interior desta abóbada exterior, permanece o túmulo de Nuno Martins Chacim. Um senhor feudal da região. Aio do rei D. Dinis, viveu no século XII e teve a tenência das terras de Bragança.

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A RELEVÂNCIA PERDIDA DE CASTRO DE AVELÃS

Situada no vale do rio Fervença, hoje em dia, Castro de Avelãs é aldeia quase desconhecida. Porém, nem sempre foi assim.

Noutros tempos, em que o país não era marcado pela centralidade de Lisboa e Porto, muitas localidades portuguesas foram protagonistas de grandes momentos da história. Ou seja, no passado, assumiram importância hoje esquecida. Entre tantos outros, Castro de Avelãs é um exemplo.

Com efeito, habitada desde tempos imemoriais, muito provavelmente foi a capital dos Zoelas, Ainda antes dos romanos, a presença deste povo foi comprovada numa campanha arqueológica iniciada em 2012.

No lugar da Torre Velha, as escavações resultaram de uma parceria entre a Câmara Municipal de Bragança e a Universidade de Coimbra. Na coordenação, esteve Pedro C. Carvalho, da Faculdade de Letras daquela Universidade.

Citados por Plínio, os Zoelas seriam exímios produtores de linho, muito apreciado em Roma. Efetivamente, o seu território era vasto e estendia-se a Espanha. Durante a época romana, a capital dos Zoelas foi, igualmente, capital de uma civitas do império de Roma.

Efetivamente, em Castro de Avelãs foram encontrados testemunhos da vivência dos Zoelas. Nomeadamente ossadas, anéis, moedas, entre outros artefactos. A par disso, graças à necrópole encontrada e à datação radiocarbónica das ossadas, os arqueólogos confirmam que o local foi habitado durante, pelo menos, mil anos. Mais precisamente, entre os anos 600 e 1100 d. C.

UM MOSTEIRO INFLUENTE

Quanto ao mosteiro de Castro de Avelãs, são várias as fontes históricas que lhe fazem referência. Ainda assim, a sua origem continua incerta. De acordo com um dos registos históricos, de 1145, D. Afonso Henriques doou o mosteiro aos monges a vila de São Jorge, entre outras terras.

Mais tarde, em 1186, um documento régio de D. Sancho I dá a entender que existe alguma pressão dos poderes locais sobre as propriedades da abadia. Mais do que isso, o rei incita-os a não tomarem quaisquer medidas contra a vontade do abade.

Um ano mais tarde, o mesmo rei, D. Sancho I, oferece ao mosteiro de Castro de Avelãs as aldeias de São Julião, Pinelo e Argoselo em troca de Bragança. Com esta troca, e através de uma carta de foral, fundou oficialmente a cidade que é hoje a sede do mais periférico distrito de Portugal.

Embora se desconheça o porquê da importância deste mosteiro, o seu papel relevante ao longo dos séculos é também confirmado por uma ilustre presença, em 1387. Efetivamente, foi o local escolhido para albergar o britânico Duque de Lencastre, escoltado pela sua comitiva, na véspera do seu encontro com o rei D. João I em Babe, nas proximidades. Com efeito, o momento em que o Duque se despediu da filha, Filipa de Lencastre, prestes a ser rainha de Portugal.

UM MONUMENTO INVULGAR QUE VALE A PENA CONHECER

Segundo os registos históricos, o mosteiro de Castro de Avelãs teria outrora uma grande influência na região. Mais do que isso, um papel quase despótico. Talvez por isso, acabou por ser extinto em 1545, por uma bula do Papa. Nessa altura, sendo o mais importante mosteiro do nordeste transmontano, o seu rico património passou para as mãos da Igreja.

Desde então para cá, o edifício não voltou a ser habitado por monges. Efetivamente, ao longo dos séculos, manteve-se num relativo abandono, entregue à degradação.

A partir de 2005, um projeto de recuperação veio transformar o aspeto. Além disso, começou a desvendar o seu passado, através de escavações arqueológicas. Por outro lado, tornou-se uma atração turística – embora discreta – de Trás os Montes. Infelizmente, falta ainda a musealização, e por isso a visita ao espaço interior depende de uma pessoa local.

Ainda assim, o exterior compensa largamente a deslocação, fazendo-nos sentir a sua história, e as vidas que por aqui passaram. Sem dúvida, razões não faltam para incluir esta pérola transmontana no seu roteiro, na próxima visita a Bragança.

 

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  • CONTACTO: Turismo de Bragança 273 381 273 | turismo@cm-braganca.pt

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  • HORÁRIO: Sempre aberto. Para visitar o interior, terá de pedir a uma pessoa local.

  • ACESSIBILIDADE: O espaço exterior permite a circulação de pessoas com mobilidade reduzida.

  • ATENÇÃO: Os dados apresentados podem ser alterados. Confira antes de visitar.