Judiaria da Guarda

UMA DAS COMUNIDADES JUDAICAS MAIS ANTIGAS DE PORTUGAL

A judiaria da Guarda remonta ao século XIII. Ainda antes das perseguições cristãs, foi uma das mais  proeminentes do país. Hoje em dia, este bairro está bem preservado e partilha com os visitantes a história deste povo. Uma história ainda viva na sua arquitetura e simbologia. 

A JUDIARIA DA GUARDA: UMA COMUNIDADE JUDAICA ENTRE CRISTÃOS

A comunidade judaica da Guarda é uma das mais antigas de Portugal. Com efeito, remonta ao século XIII, altura em que o rei D. Dinis deu aforamento de casas a famílias judaicas, na freguesia de S. Vicente.

Mais do que isso, a Judiaria da Guarda é foi também uma das mais proeminentes do país. Hoje em dia, é uma atração histórica dentro da cidade. Sem dúvida, vale a pena procurá-la para uma visita. Assim, tanto a Porta d’El Rei como a Porta da Erva dão acesso à antiga zona habitada por judeus.

No final do século XIV, albergava cerca de duzentos habitantes. Contudo, apenas meio século mais tarde, os registos indicam que a população triplicara. Segundo os registos, alguns dos nomes destas famílias eram Cáceres, Castelão, Baruch ou Mocatel.

À semelhança de outras comunidades judaicas portuguesas, como Castelo de Vide ou Belmonte, as casas tinham duas portas. Com efeito, a porta mais estreita dava acesso à habitação, e a mais larga à loja. Era aqui que os judeus realizavam os seus negócios, fonte da sua prosperidade. A par disso, em regra, as casas tinham também dois pisos, sendo o superior reservado a habitação.

Na Guarda, além do comércio, os judeus exerciam as mais variadas profissões. De modo geral, eram membros ativos na comunidade, prestando diversos serviços. Por exemplo, alfaiates, ferreiros, sapateiros, tecelões, cirurgiões, entre outros.

O EMERGIR DAS TENSÕES SOCIAIS

No entanto, no século XV, emergiram as tensões religiosas entre judeus e cristãos. Como sabemos, estas tensões dariam origem a perseguições, conversões forçadas, expulsões e criptojudaísmo.

Em consequência destas tensões, em 1465, a entrada no bairro judeu da Guarda foi fechada. À porta, um guarda controlava as entradas e saídas, e abria e fechava a porta. Ainda hoje, encontramos a casa do guarda na atual Rua do Amparo. Antigamente, esta rua era conhecida como Rua Nova da Judiaria.

No interior do bairro judeu, a comunidade mantinha a sua vida habitual. Trocava serviços, frequentava a sinagoga e dispunha de uma atafona. Ou seja, um local onde se moíam a guardavam os cereais e alfaias. A par disso, tinham ainda dois açougues, onde se matavam os animais e se comercializava a sua carne. Por outro lado, havia ainda o Mikvé, para os banhos rituais, e um cemitério próprio.

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PROCURE A SIMBOLOGIA JUDAICA

Se reparar com atenção, vai encontrar na judiaria da Guarda símbolos religiosos nas paredes e nas portadas.

De modo geral, são símbolos em forma de cruz, mas também longitudinais. A par disso, existem ainda datas e anagramas, com um significado próprio. Gravadas no granito, estas marcas perpetuam modos de vida de antigamente, de pessoas que há muito desapareceram.

Na altura das perseguições religiosas, as audições do Tribunal da Santa Inquisição decorriam nas igrejas vizinhas de S. Vicente e de S. Pedro, que pode visitar. Assim, as cruzes que hoje vemos datam do século XV, e representam a cristianização destas casas. Ou seja, indicam que os seus habitantes tinham feito uma conversão (forçada) à religião católica.

À semelhança do que aconteceu em outras comunidades judaicas portuguesas, também a da Guarda teve de optar, a partir de 1496, pela fuga ou pela conversão ao catolicismo. Naquela altura, o seu culto judaico fora proibido pelo rei D. Manuel. Ia casar com a filha dos reis católicos de Espanha, e acedeu a expulsar os judeus, por pressão dos futuros sogros.

Em consequência, muitos judeus optaram por permanecer na cidade. Contudo, escondiam a sua fé, ou mudavam-se para novas ruas, fora do bairro judaico. Na prática, integraram-se na comunidade cristã. No entanto, muitos mantinham em segredos os seus antigos costumes. Por essa razão, tornaram-se conhecidos como criptojudeus.

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A ORIGEM DA MEZUZAH NO ANTIGO TESTAMENTO

Em hebraico, a palavra Mezuzah refere-se à ombreira da porta, e a uma concavidade encravada a cerca de dois terços da altura da porta. Geralmente, tinha 10 centímetros de altura e 2 de largura e de profundidade. Na Judiaria da Guarda, podemos observar as Mezuzahs, nomeadamente na rua Rui de Pina, nos números 4 e 6. 

De acordo com a tradição, ali se encaixava um pequeno pergaminho, com excertos do Antigo Testamento. Mais precisamente, do livro de Deuteronómio 6, 4-9: e ainda 11, 13-21. O texto desta passagem bíblica é a seguinte. 

«Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o senhor teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder. E estas palavras, que hoje te ordeno estarão no teu coração. E será que, se diligentemente obedecerdes aos meus mandamentos que hoje te ordeno, de amar ao Senhor, teu Deus, e de O servir de todo o teu coração e de toda a tua alma;

Então darei a chuva da vossa terra, a seu tempo, a temporã e a serôdia, para que recolhas o teu grão, e o teu mosto, e o teu azeite; (…) Ponde, pois, estas minhas palavras no vosso coração e na vossa alma, e atai-as por sinal na vossa mão, para que estejam por testeiras enre os vossos olhos. (…) E escreve-as nos umbrais de tua casa e das tuas portas; Para que se multiplique os vossos dias e os dias dos vossos filhos na terra que o Senhor jurou aos vossos pais dar-lhes, como os dias dos céus sobre a terra.»

UM RITUAL JUDEU MARCADO NO GRANITO

Seguindo o preceito religioso, a Mezuzah devia ser tocada pelos judeus, com a mão direita, enquanto murmuravam uma oração e entravam pela porta.

Como vimos nas passagens bíblicas transcritas acima, o ritual lembrava à comunidade que o seu Deus era só um. Por outro lado, também conferia proteção divina à casa e à família.

Para encontrar a simbologia judaica na judiaria da Guarda, a Câmara Municipal criou um roteiro onde estão assinaladas. Com este guia, os visitantes encontram mais facilmente a vasta quantidade de marcas que os judeus deixaram na zona da cidade que outrora ocuparam. Por isso, fica o convite para descarregar o roteiro aqui e partir à descoberta da Judiaria da Guarda!

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  • MORADA: Rua do Amparo, 3, Guarda

  • CONTACTO: +351 271 213 150 | +351 967 460 904 | geral@freguesiadaguarda.pt

  • PREÇO: Gratuito.

  • HORÁRIO: Sempre aberto.

  • ACESSIBILIDADE:  As ruas são empedradas, algumas com faixas de acessibilidade no pavimento.

  • ATENÇÃO: Os dados apresentados podem ser alterados. Confira antes de visitar.

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