Procure-as nas zonas mais antigas da cidade

DUAS IGREJAS ESCONDIDAS

Situada na Rua de Santa Maria, a Sé Catedral de Setúbal ocupava um lugar central no antigo burgo medieval. No entanto, hoje em dia esta zona passa despercebida por quem visita a cidade. O mesmo acontece com a igreja de São Sebastião, na outra ponta da cidade. Venha connosco em busca destas duas igrejas escondidas nas zonas mais antigas da cidade.  

A ZONA MAIS DISCRETA DE SETÚBAL

Em boa verdade, o alto de São Sebastião não faz parte do roteiro de quem visita Setúbal. Geralmente, procuramos a cidade para almoçar, ou pelas paisagens. Passeamos junto ao rio, comemos choco frito num restaurante, atravessamos de barco para Troia. No verão, visitamos as praias, a serra e, pelo meio quem sabe, o património cultural. No entanto, pouca gente conhece uma das mais antigas da cidade.

De facto, a vida de Setúbal concentra-se em outras zonas, sobretudo na Baixa. Ou seja, o atual centro histórico irradia do largo da Câmara Municipal e da Igreja de São Julião. Mais acima, numa das mais antigas zonas da cidade, restam ruas estreitas, edifícios degradados e algum abandono que, muito lentamente, se vai revertendo. Exceção feita para o Miradouro de São Sebastião e, mesmo ao lado, o Museu do Trabalho. Assim sendo, num recanto deste emaranhado de ruas antigas, encontramos a imponente – e involuntariamente discreta – Igreja de São Sebastião.

De facto, como grande fã de Setúbal, já perdi a conta às vezes que visitei a cidade. No entanto, nunca tinha visto esta igreja. E para a encontrar, foi preciso procurá-la, com a ajuda do GPS. E valeu a pena.

Por isso, recomendo que faça com eu, e descubra uma das zonas mais antigas de Setúbal. Afinal, está pertíssimo do cais dos ferry boats que seguem para Troia, e de uma fileira de restaurantes muito frequentados. Cá de baixo, até conseguimos ver a igreja. Basta subir e ir ao encontro dela.

A DEVOÇÃO DOS PESCADORES

A Igreja de São Sebastião situa-se o Largo de São Domingos. Um ponto alto da cidade, de onde desce uma rua que – como direi… – mete dó. Infelizmente, os edifícios desesperam por carinho e dignidade. Em contraste, notamos logo que a igreja de São Sebastião mantém uma vida ativa.

Cá fora, uma placa marca a sua ligação aos escuteiros, e no interior há quem reze, mesmo num dia de semana à tarde. Também foi fácil apurar que mantém o serviço religioso, e até criou uma página de internet, para colmatar a distância durante a pandemia.

Instituída em meados do século XVI, a igreja ostenta um imponente brasão régio no topo frontal. Em 1755, foi vítima do terramoto que assolou a região de Lisboa, mas conseguiu manter a estrutura original. Lá dentro, envolve-nos o estilo rococó e a talha policroma pombalina.

Ao entrar, encontro o guardião da igreja, prestável e acolhedor. Desde logo, oferece-se para acender as luzes todas, se isso ajudar às fotografias. Aponta-me os atrativos da igreja, com destaque para a imagem de Nossa Senhora do Rosário de Troia. Padroeira dos pescadores locais, todos os anos, em agosto, a levam de barco, em procissão pelo rio. Ruma à península de Troia, e passa também no hospital do Outão, para a bênção dos doentes.

Ao lado de Nossa Senhora, um nicho acolhe uma bonita imagem da Rainha Santa Isabel, de Aragão, com o regaço cheio de rosas. Segundo a lenda, o pão que levava para os pobres transformou-se em rosas quando foi surpreendida pelo marido, o rei D. Dinis.

O PASSADO MANUELINO DE SETÚBAL

Conforme saberá, Setúbal tem uma ligação especial a um dos reis mais proeminentes da História de Portugal. Falamos de D. Manuel I. Nascido na vila piscatória de Alcochete, nunca pensou subir ao trono. No entanto, contra todas as probabilidades e a morte de vários herdeiros na linha de sucessão, tornou-se rei de Portugal. Mais do que isso, em pleno século XV, teve um papel incontornável na nossa História. No seu reinado, impulsionou os Descobrimentos, deu cobertura aos Templários e foi levado a expulsar de Portugal os judeus e muçulmanos.

A par disso, D. Manuel é também o rei a quem se associa um estilo arquitetónico próprio. O estilo manuelino, carregado de simbologia marítima, alusiva à descoberta do mundo. São exemplo disso o convento de Tomar, com a famosa janela manuelina. Mas também o mosteiro dos Jerónimos, e ainda a emblemática Torre de Belém, em Lisboa.

Contudo, é aqui, em Setúbal, que se situa um exemplar pioneiro da arquitetura manuelina, o bonito Convento de Jesus. Encontra-se no Largo de Jesus, na ponta da cidade mais perto das montanhas. Com efeito, este bonito edifício partiu da iniciativa da dedicada ama de leite de D. Manuel, que fez uma promessa. Se tiver interesse, conheça esta história com mais detalhe aqui.

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UMA LIÇÃO PARA OS PRETENDENTES AO TRONO

A par desta ligação, foi também num acontecimento ocorrido em Setúbal que D. Manuel perdeu o seu segundo irmão, D. Diogo. Era cunhado do rei e estava na linha de sucessão ao trono. No entanto, perdeu a vida antes disso.

Com efeito, na noite de 28 para 29 de agosto de 1484, D. Diogo foi chamado à presença de D. João II. Assim, deslocou-se a «umas casas de Nuno da Cunha», onde o rei estava instalado, vindo de Santarém. Nos seus aposentos, o monarca terá perguntado a D. Diogo o que faria se soubesse que alguém o queria matar. D. Diogo terá respondido que o matava com as próprias mãos, e foi exatamente o que o rei fez.

De facto, D. Diogo era Duque de Viseu e pretendente ao trono, tendo estado envolvido em diversas conspirações para o assassinar o monarca. Contudo, acabou por ser vítima da sua ambição. Na manhã seguinte, o corpo de D. Diogo foi exposto, de cara destapada, na Sé Catedral de Setúbal, à laia de aviso a outros conspiradores.

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UMA IGREJA QUE ATRAVESSOU OS SÉCULOS

Outra igreja que passa despercebida em Setúbal é a Sé Catedral. Dedicada a Santa Maria da Graça, foi erguida no século XIII. No entanto, a estrutura original foi alvo de uma grande recuperação no século XVI, que lhe deu o aspeto que ainda hoje tem. 

Tal como acontece com a Igreja de São Sebastião, a Sé Catedral de Setúbal não é muito fácil de encontrar. Mais uma vez, nunca me tinha cruzado com ela, em tantas visitas a Setúbal. Para a encontrarmos, há que procurar ativamente, ou então perder-nos nas ruas da Baixa da cidade. Na prática, seguindo no sentido oposto ao da zona com mais movimento.

Deambulando por ruas onde nunca tinha passado, encontrei-a num bonito largo, num recanto periférico da Baixa de Setúbal. Ao lado, uma esplanada convidativa, e, mesmo à porta, uma estátua do antigo Bispo de Setúbal, D. Manuel Martins.

Apesar das alterações, a Sé Catedral de Setúbal manteve sempre a sua traça romano-gótico. A nave central, rebaixada, é ladeada por duas torres. Em resultado, a fachada é larga e imponente.

No interior, esta igreja de ostenta frescos do século XVIII, assim como azulejos e talha dourada da mesma altura. Entre, assista a uma missa e aprecie a tranquilidade histórica que só os lugares muito antigos conseguem transmitir.

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