Convento de Jesus

O CONVENTO ONDE SE DIVIDIU O MUNDO

O Convento de Jesus, com a sua bonita Igreja, é o principal monumento histórico de Setúbal. Mais do que isso, é um edifício emblemático em Portugal, pois é um dos primeiros monumentos do país em estilo manuelino. Mais do que isso, foi aqui que Portugueses e Espanhóis dividiram o mundo entre si, no Tratado de Tordesilhas. A fundação do Convento de Jesus, em finais do século XV, deve-se a uma mulher, Justa Rodrigues Pereira. Mas qual a importância desta mulher, e por que razão teve apoio régio para o construir?

UM EDIFÍCIO CHEIO DE HISTÓRIA

O Convento de Jesus, em Setúbal, é tido como uma das primeiras manifestações do estilo manuelino. Inclusivamente, o edifício terá sido a primeira obra do mestre francês Diogo de Boitaca, que viria a ser, mais tarde, também responsável pelo Mosteiro dos Jerónimos.

Setúbal foi a cidade escolhida por Justa Rodrigues Pereira para a construção do edifício, num terreno doado por D. Fernando, pai de D. Manuel. Situava-se fora das portas da cidade, mas junto a uma das entradas, no bairro do Troino.

A motivação para a construção terá sido religiosa, já que a ama de D. Manuel manteve um relacionamento com D. João Manuel, bispo da Guarda e filho bastardo do rei D. Duarte, e com ele teve dois filhos. Talvez para salvar a alma, a dada altura da vida Justa Rodrigues Pereira decidiu professar a ordem das Clarissas. A par disso, quis construir um convento onde pudesse ingressar, e também reunir o panteão familiar. 

A PROMESSA DE UM CONVENTO

A par das questões religiosas, consta ainda que o convento poderá ter resultado de uma promessa, feita numa época em que a mortalidade infantil era elevada. Com efeito, a ama terá prometido que, se D. Manuel chegasse a homem, faria uma igreja. De facto, fê-la, e com um convento acoplado. Afinal, o menino que amamentara não só chegara à idade adulta, como veio mesmo a subir ao trono.

Efetivamente, a licença papal para construção do convento chegou em 1489. Em consequência, as obras começaram no ano seguinte, ainda durante o reinado de D. João II. Assim sendo, foi aqui que este monarca ratificou o Tratado de Tordesilhas, em 1494. Sem dúvida, um tratado ambicioso, que dividia o mundo entre Portugal e Espanha, dois países de conquistadores.

A par do apoio régio, o convento de Setúbal contou igualmente com donativos de nobres, de privados e, claro, de D. Manuel. Antes e depois de subir ao trono, em 1495.

Logo no início de reinado, D. Manuel I mandou ampliar da obra da sua ama, e doou riquezas para o seu recheio. Entre elas, os sinos, e uma coleção de quadros alusivos a santos, tendo ambos chegado aos nossos dias.

Imagem antiga do Convento de Jesus (1699-1743), João Tomás Correia
Imagem antiga do Convento de Jesus (1699-1743), João Tomás Correia
Justa Rodrigues Pereira
Justa Rodrigues Pereira

O REI IMPROVÁVEL E A AMA QUE O CRIOU

Existem poucas certezas sobre a origem de Justa Rodrigues Pereira. Pensa-se que terá nascido na década de 20 do século XV, possivelmente na região da Guarda. Não seria de linhagem nobre, embora haja quem a indique como descendente de D. Nuno Álvares Pereira, mas a sua vida viria a estar estreitamente ligada à realeza. Sabe-se que um dos irmãos de Justa Rodrigues Pereira era criado de D. Fernando (1433-1470), segundo filho varão do rei D. Duarte e Duque de Viseu. Assim, terá sido por influência deste irmão que Justa se tornou a ama do filho mais novo de D. Fernando, D. Manuel, nascido em Alcochete em 1469.

Sobrinho do Rei D. Afonso V, D. Manuel não estava na linha direta de sucessão. No entanto, por morte do seu primo e cunhado, o rei D. João II, que faleceu sem herdeiros legítimos, veio a ocupar o trono em 1495.

D. MANUEL, O REI VENTUROSO

D. Manuel I recebeu o cognome de «O Venturoso» ou «o Bem aventurado». Deste modo, ficou para a história como o rei que dinamizou o apogeu da expansão marítima portuguesa iniciada por D. João II. Efetivamente, foi no seu reinado que Vasco da Gama descobriu o caminho marítimo para a Índia, e que Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil.

Em suma, foi durante o seu reinado que Portugal passou a ser um império, espalhado pelo mundo.

Mais do que isso, D. Manuel ficou também para a posteridade associado a um estilo arquitetónico muito próprio: o Estilo Manuelino. Com efeito, conjugava um estilo gótico tardio a elementos exóticos e marítimos, com da Cruz de Cristo e da Esfera Armilar.

Com efeito, alguns dos ex libris do estilo manuelino são o Mosteiro dos Jerónimos ou a Torre de Belém, em Lisboa. Além destes, outro exemplo famoso é o Convento de Cristo, em Tomar, onde se situa a famosa Janela Manuelina.

Rei D. Manuel I
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DO PASSADO RELIGIOSO AO PRESENTE TURÍSTICO

As primeiras freiras, da Ordem Franciscana das Carmelitas Descalças, ocuparam o convento de Jesus em 1496. No entanto, este espaço religioso acolhia igualmente jovens oriundas da nobreza, da burguesia abastada e de camadas menos favorecidas da sociedade.
 
Em 1834, foi decretada em Portugal a extinção das ordens religiosas e, algumas décadas depois, o convento viu o seu fim com a morte da última freira em 1888. 
 
Em 1910, a igreja foi considerada Monumento Nacional e em 1933 a classificação é alargada a todo o edifício. Posteriormente, o convento de Jesus foi entregue à Misericórdia e ali funcionou durante algum tempo um hospital. Inclusivamente, foi ali que faleceu o ministro de Salazar Duarte Pacheco, em 1943, na sequência do acidente de automóvel que teve na estrada nacional 4.

DO ABANDONO À NOVA VIDA

Em 1969, o Convento de Jesus sofreu danos com o terramoto que abalou a região de Lisboa e Vale do Tejo.

Seguiram-se anos de descuido e risco de ruína, em que esteve fechado ao público. Por fim, em 1998 teve início um processo de recuperação, extensão e reconversão em museu, com um projeto do arquiteto Carrilho da Graça.

Com efeito, o Convento de Jesus abriu ao público parcialmente, em 2015, mas ainda sem a conclusão do projeto. Mais tarde, em 2020, ganhou finalmente nova vida, abrindo portas em outubro.

Atualmente, o convento sonhado e concretizado pela ama do rei D. Manuel I está afeto à Direção Regional da Cultura de Lisboa e Vale do Tejo. De pleno direito, integra o conjunto de espaços museológicos do Município de Setúbal.

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  • Morada: Rua Acácio Barradas, 2,, Setúbal. 

  • Horário:  Segunda a sábado das 10h00 às 18h00. Domingo: das 15h00 às 19h00.

  • Preço:  Gratuito.

  • Acessibilidade:  Existe um degrau na entrada. 

  • Contacto: 265 537 890.