Navio-Hospital Gil Eannes, Viana do Castelo

O ANJO DA GUARDA NA PESCA DO BACALHAU

No tempo em que os pescadores portugueses enfrentavam os gélidos mares do norte para a pesca do bacalhau, o Navio-Hospital Gil Eannes era o seu anjo da guarda. Equipado para qualquer eventualidade, tinha como missão garantir a saúde dos pescadores. Mais do que isso, o seu regresso a casa com vida. Hoje em dia, este imponente navio está atracado, de forma permanente, em Viana do Castelo. Sem dúvida, é um dos mais emblemáticos espaços museológicos da cidade.

UMA LONGA RELAÇÃO COM O «FIEL AMIGO»  

Como é sabido, desde há muito que o bacalhau é um dos peixes mais consumidos pelos portugueses. De facto, cozinhamo-lo de mil e uma maneiras, desde o bacalhau cozido «com todos» aos mais trabalhosos assados. E até cru, em meia desfeita.

Com efeito, esta longa e estreita relação, entre os portugueses e o bacalhau teve início no século XV. Ou seja, quando os descobridores lusitanos encontraram a Terra Nova, no Canadá. Na altura, procuravam o caminho para a Índia. Encontraram o bacalhau.

De facto, este peixe conservava-se durante muito tempo. Por isso, era o alimento ideal para as grandes viagens marítimas, frequentes naquela época. Contudo, também em terra, um pouco por todo o país, o bacalhau passou a fazer parte da ementa. Além de ser acessível, era uma alternativa ao peixe fresco. Deste modo, ganhou a alcunha de «o fiel amigo».

Durante o Século XVI e, mais tarde, entre o século XIX e os anos 60 do século XX, Portugal teve uma grande frota de bacalhoeiros. Incansáveis, passavam meses seguidos nos mares do Norte e na Gronelândia, à pesca do bacalhau.

Regra geral, partiam dos portos de Viana do Castelo e de Ílhavo, perto de Aveiro. Por isso, a história desta atividade piscatória é contada no Navio-Hospital Gil Eannes, em Viana do Castelo, mas também no Museu Marítimo de Ílhavo.

A MISSÃO DO GIL EANNES: LEVAR SAÚDE AOS MARES DO NORTE

A bordo dos bacalhoeiros, nos gélidos mares do Atlântico Norte, a faina era muito dura. Com efeito, as baixas temperaturas chegavam a provocar queimaduras. A par disso, a alimentação era deficitária, e havia poucas condições de higiene e de conforto. Em suma, a pesca do bacalhau era uma atividade de risco. Por outro lado, o isolamento em alto mar, longe de casa, tornava esta atividade ainda mais dura.

Neste contexto, surgiu a necessidade de dar apoio a estes homens, que enfrentavam condições extremas. Apesar disso, com coragem, abraçavam uma profissão que permitia colocar comida na mesa das famílias portuguesas.

Durante meses a fio, os pescadores trabalhavam em condições duríssimas. Em consequência, eram muitas as maleitas que os afetavam. Em boa parte, eram problemas relacionados com o ar glacial que os rodeava.

Assim, em 1927, o Navio-Hospital Gil Eannes passou a acompanhá-los na sua árdua missão, prestando apoio de saúde.

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TUDO COMEÇOU COM A APREENSÃO DE NAVIOS NO TEJO 

Durante a Primeira Guerra Mundial, houve uma altura, em 1916, em que os Aliados pediram o apoio de Portugal. Diligentemente, e desejoso de se afirmar no panorama internacional, o recente Governo republicano português apressou-se a tomar medidas. Assim, a 23 de fevereiro desse ano, mandou requisitar todos os navios alemães que se encontravam no rio Tejo.

Um deles chamava-se Lahnek, e pertencia a uma companhia de navegação alemã. A Deutsche Dampfschiffarts GeselIschaft Hansa. Deste modo, o Lahnek foi apreendido pelo regime, reconvertido em navio-hospital, e ganhou outro nome. Gil Eannes.

Com capacidade para duas mil toneladas de carga, o poderoso navio media 84.79 metros de comprimento. A par disso, dispunha de um potente motor, capaz de navegar até 11 nós.

O nome Gil Eannes homenageia um ilustre navegador português do século XV. Nasceu em Lagos, no Algarve e notabilizou-se em 1434. Neste ano, conseguiu finalmente, ultrapassar o Cabo Bojador, na costa ocidental de África.

Inicialmente, o navio Gil Eannes foi usado para transportar tropas portuguesas para as zonas de conflito armado. Mais tarde, fez carreiras regulares até aos Açores. Contudo, foi como navio-hospital que ficou para a História.

«MISERCÓRDIA DO MAR»

Naturalmente, para se tornar um navio-hospital, o Gil Eannes precisou de adaptações. Assim sendo, a adaptação decorreu na Holanda. Em seguida, fez a sua primeira missão de apoio aos pescadores portugueses de bacalhau, na Terra Nova. Foi em 1927, durante a temporada de pesca, entre maio e novembro.

A par disso, uma vez que o Gil Eannes fazia parte da Marinha de Guerra Portuguesa, desempenhou outras missões. Entre elas, o transporte de presos. Contudo, voltava regularmente a acompanhar os pescadores, entre 1937 e 1941. No ano seguinte, acabou por ser desarmado e entregue à Sociedade Nacional dos Armadores de Bacalhau. Desta forma, passou a dar apoio exclusivo aos pescadores dos mares do Norte.

Além de funcionar como um hospital, o Gil Eannes ajudava a manter os pescadores alimentados e bem apetrechados. Mais do que isso, ajudava a matar saudades de casa. A faina era dura e restava pouco tempo livre da pesca e do amanho do bacalhau. Longe de casa, os pescadores pouco mais podiam fazer além de jogar cartas ou fazer umas visitas esporádicas a St. Johns ou aos esquimós

Assim, além de cuidar dos doentes, o Gil Eannes ajudava a matar saudades de casa transportando correio, além de alimentos e do material necessário aos homens do mar. Por isso, ganhou a alcunha de «Misericórdia do mar».

 

O NOVO GIL EANNES

Em 1955, o antigo navio Gil Eannes foi substituído por um novo navio-hospital. Em suma, era mais moderno e bem equipado. Contudo, recebeu o mesmo nome do seu antecessor.

Assim, por encomenda do Estado Novo, foi construído nos estaleiros de Viana do Castelo. Mais uma vez, assumiu a missão de apoiar os pescadores nas águas frias do mar do norte. Uma missão que desempenhou com distinção, fazendo a diferença na vida de muitos pescadores.

Com mais de 98 metros de comprimento, o novo Gil Eannes atingia uma velocidade de 12.5 nós. Desenhado de raiz para a missão que desempenhava, tinha capacidade para 72 tripulantes. Além destes, podia ainda acolher 6 passageiros e 74 pacientes.

Contudo, após duas décadas de serviço, o Gil Eannes perdeu o rumo. Ficou ao abandono, a apodrecer aos poucos na doca de Lisboa.

A dada altura, o então embaixador de Portugal no Brasil, José Hermano Saraiva, apostou na sua recuperação. Assim, com apoio de um mecenas, conseguiu que, em 1973, o navio fosse transformado numa embaixada flutuante. O objetivo era viajar até ao Brasil, e representar Portugal, durante um mês, no país irmão. Uma missão diplomática de charme.

Com este projeto, o Gil Eannes ganhou salões de festa em vez de salas de operação. Engalanado, acolheu eventos com muita gente e divulgou os produtos portugueses no outro lado do Atlântico.

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UMA LONGA HISTÓRIA PRESERVADA NUM MUSEU FLUTUANTE 

Em 1974, o Gil Eannes acumulou mais uma nobre missão. Com efeito, foi a Luanda resgatar refugiados portugueses. Com a independência das então colónias portuguesas, fugiam da guerra que se instalou em Angola.

Depois disso, ainda fez mais algumas viagens pontuais, mas acabou por ser vendido para sucata. Em consequência, durante anos ficou a apodrecer na doca de Alhos Vedros.

Porém, eram muitas as vozes que se levantavam contra este triste fim. Afinal, nenhum outro navio em Portugal, e possivelmente no mundo, teve um passado tão rico, e com tantas nobres missões.

Por fim, a autarquia de Viana do Castelo lançou um apelo público para resgatar o navio ao sucateiro. Assim, em 1997, surgiu a associação SOS Gil Eannes e, mais tarde, a Fundação Gil Eannes.

Deste modo, e o nobre navio-hospital foi salvo, a poucos dias de ser desmantelado.

Após um percurso que impactou a vida de tantas pessoas, o navio-hospital Gil Eannes regressou a Viana do Castelo, para se tornar neste invulgar museu. com nova missão, e já a dignidade recuperada, abriu as portas ao público em agosto de 1998. Merecidamente, é um dos museus preferidos no norte do país, com uma média de 40 mil visitantes por ano.

Hoje em dia, o Gil Eannes flutua, placidamente, no cais de Viana do Castelo. Vale a pena visitá-lo, para conhecer a sua história e as suas muitas missões. Se tiver crianças, com toda a certeza, vão adorar percorrer o navio, como se fossem aspirantes a marinheiros ou pescadores bacalhoeiros.

Crédito das fotos: família Gouveia Branco Mendes Antunes.
  • MORADA: Navio Gil Eannes – Doca Comercial, 4900 – 321 Viana do Castelo

  • CONTACTO: (+ 351) 258 809 710 238 603 095 | (+ 351) 914 534 707  | navio@fundacaogileannes.pt

  • PREÇO: Entre 4,50 e 10 euros (bilhete família). Gratuito até aos 6 anos.

  • HORÁRIO: Aberto de terça-feira a domingo das 10h00 às 13h00 | 14h00 às 17h30

  • ACESSIBILIDADE:

  • WEBSITE: https://www.fundacaogileannes.pt/

  • ATENÇÃO: Os dados apresentados podem ser alterados. Confira antes de visitar.