Mosteiro de Santa Maria das Júnias
UM PERCURSO EM ALTA MONTANHA, RUMO AO PASSADO
Em pleno Parque Natural da Peneda-Gerês, mesmo à beirinha da Galiza, situa-se a aldeia de Pitões das Júnias. Uma aldeia antiga, em tons de granito e madeira, que convida a passeios pedestres em alta montanha. Desde logo, para conhecer a cascata e o (muito) antigo mosteiro de Santa Maria das Júnias.
CALCE AS BOTAS DE CAMINHADA E SIGA A PÉ PELA MONTANHA
Para visitar o Mosteiro de Santa Maria das Júnias, tome como ponto de partida a aldeia de Pitões das Júnias. Em pleno Parque Natural da Peneda Gerês, pertence ao concelho de Montalegre e ao distrito transmontano de Vila Real.
Sendo uma típica aldeia de montanha, o granito é a matéria-prima que mais se destaca na sua composição. Sem surpresa, a mesma rocha que vemos, em abundância, espalhada por toda a serra.
Com efeito, esta aldeia antiga teve origem no mosteiro. Além disso, tem como patrono São Rosendo (907-977), que andou por estas paragens no século X.
Na entrada da aldeia, vire à esquerda, rumo ao cemitério, e siga sempre em frente. A certa altura, depara com uma estrada em empedrado, daquelas que chocalham o carro, e pode estacionar logo aí, ou então seguir para baixo.
A menos de um quilómetro, mais abaixo, esta estrada acaba e começa um trilho com duas setas à escolha; a cascata a cerca de 1 km para a direita, ou o mosteiro a pouco mais de 300 metros para a esquerda.
Nesta zona, estamos no planalto da Mourela, rodeados por serranias, e a paisagem é simplesmente soberba. À medida que nos aproximamos do mosteiro, começamos a ouvir a ribeira de Campesinhos à nossa esquerda, oculto pela vegetação, e só quando chegamos ao fundo é que vemos o antigo mosteiro, à sombra das árvores. Assim, se continuar pela esquerda, encontra o riacho, uma pontezinha de madeira e trilhos pedestres. Por outro lado, se optar por seguir para a direira, entra no que resta do antigo mosteiro, junto à igreja que ainda está em bom estado,
UM MOSTEIRO ISOLADO, MAS NÃO MUITO
Situado a mais de mil metros de altitude, é a cerca de 2 km da aldeia de Pitões das Júnias que vamos encontrar o antigo mosteiro de Santa Maria das Júnias.
Ao fundo de um vale da Serra da Mourela, à beira do ribeiro de Campesinho, tem uma localização isolada, que fazia parte do modo de vida dos monges que aqui se instalaram. Possivelmente nos anos 40 do século XII, a avaliar por uma inscrição na pedra.
Seguidora da regra de São Bento de Nursia, esta comunidade seguia a matriz cluniacense, à semelhança da generalidade da região vizinha da Galiza. Ou seja, o seu modo de vida replicava o estabelecido pelo mosteiro de Cluny. Originário do século X, irradiou da Borgonha para toda a Europa ocidental, com as comunidades clunicences a estabelecerem-se em locais isolados como este. Ou seja, o ideal para uma vida de recolhimento espiritual, oração e auto-subsistência.
Contudo, o isolamento do mosteiro de Santa Maria das Júnias era relativo. Afinal, tinha uma ligação estreita com o mosteiro galego de Santa Maria de Oseira, um pouco mais a norte.
Por outro lado, aqui passava o caminho que seguia para Santiago de Compostela. Assim, os peregrinos faziam uma paragem no mosteiro, e muitos deixavam ofertas antes de continuarem o percurso.
Normalmente, os mosteiros e a vida que geravam serviam como um polo de atração, e foi o que aconteceu também aqui. Assim, ali perto surgiu a povoação de Pitões das Júnias, uma aldeia onde a pastorícia continua a ser um modo de vida. A par disso, o centeio também faz parte do modo das atividades agrícolas locais, uma vez que este cereal é propício ao cultivo em grandes altitudes.
PRECISA DE ALOJAMENTO?
BENESSES REAIS E UMA VIRAGEM NA MATRIZ RELIGIOSA
Durante muito tempo, pensou-se que o Mosteiro de Santa Maria das Júnias fosse originário do século IX. No entanto, o mais provável é que seja do século XII. A comprová-lo, existe uma inscrição gravada na face exterior da parede norte da nave da igreja. Com efeito, indica a data de 1147.
De modo geral, o estilo arquitetónico da igreja de Santa Maria das Júnias é do início do período românico. Assim sendo, apresenta os chamados tímpanos (aberturas para o exterior), e ainda frisos longitudinais na parte superior das paredes.
Ao longo dos séculos, o mosteiro beneficiou do poder real, nomeadamente D. Afonso III e D. Dinis. Precisamente, foi este monarca que concedeu ao mosteiro uma carta de povoamento. Desta forma, deu origem à comunidade em redor.
No século XIII, o mosteiro de Santa Maria de Pitões das Júnias ganhou um novo fôlego. Em 1248, os monges pediram autorização ao bispo de Braga para aderirem à Reforma de Cister. De facto, esta reforma partira da iniciativa de Robert de Molesme e Bernardo de Claraval. Na prática, no âmbito da Ordem Beneditina, propunha que os monges regressarem à interpretação literal da regra de S. Bento. Ou seja, uma vida simples, ligada à comunidade.
Entre as alterações, contava-se a primazia do trabalho braçal, e já não o intelectual, que até então era privilegiado no mosteiro de Cluny. Ali, os seus monges copistas dedicavam-se à produção de livros. De modo geral, haviam abandonado o trabalho do campo, deixando-o a cargo dos servos não religiosos.
Em suma, a reforma de Cister propunha um respeito absoluto pela regra original de S. Bento. E foi esse modo de vida a que obedeciam os monges que habitavam o Mosteiro de Santa Maria das Júnias.
A VIDA ATUAL DO MOSTEIRO
Com efeito, o conjunto monástico de Santa Maria das Júnias foi habitado até à extinção das ordens religiosas, em 1834. Nessa altura, os bens foram nacionalizados, e há quase 200 anos que o mosteiro não cumpre a sua função original.
Hoje em dia, embora seja um Monumento Nacional, o antigo mosteiro de Santa Maria das Júnias está ao abandono, e bastante deteriorado. Em suma, do esplendor de outrora, restam apenas partes dos edifícios, e algumas arcadas dos claustros.
No entanto, a igreja é uma exceção porque, ao longo do tempo, foi preservada. Mais do que isso, mantém, até hoje, um culto regular.
Por outro lado, todos os anos aqui se celebra, a 15 de agosto, uma festa religiosa que mantém viva a memória do passado. Igualmente nessa altura, na aldeia de Pitões das Júnias, decorre o Festival do Centeio, uma das celebrações tradicionais desta localidade.
A par disso, em novembro decorre Magusto Celta, em dezembro o Mercado cultural Pitões à Mão, entre outras iniciativas ao longo do ano.