Museu Regional de Beja Rainha D. Leonor

UM ANTIGO CONVENTO CHEIO DE BOAS HISTÓRIAS

O Museu Rainha D. Leonor, também conhecido como Museu Regional de Beja, está instalado desde 1927 no que resta do antigo Convento de Nossa Senhora da Conceição. Situado no Largo da Conceição, oferece aos visitante uma coleção de grande riqueza. O espólio inclui tanto o próprio edifício como o seu impressionante recheio.

UM CONVENTO TRANSFORMADO EM MUSEU

Desde logo, o Museu Regional de Beja Rainha D. Leonor surpreende-nos pela beleza exterior do edifício. Outrora, foi um convento feminino. Contudo, o interior é ainda mais impressionante. Na verdade, embora seja um museu regional, o seu espólio é digno de mérito nacional. Afinal, a par da arquitetura do edifício, a riqueza das peças que alberga vão muito além do valor local.

Como se tudo ist não bastasse, sabia que este espaço serviu de palco a uma história de amor conhecida além fronteiras? Continue a lar, porque contamos esta história de amor mais à frente.

PRIMEIRA PARAGEM: A IGREJA

Desde logo, a entrada do Museu Regional Rainha D. Leonor é belíssima. Na prática, entramos pela igreja anexa ao antigo convento, uma parte nobre do edifício. A bilheteira está à nossa esquerda, e o preço é simbólico. Posto isto, quando nos dispomos a começar a visita, deparamos, logo ali, com um cenário esplendoroso.

Ao centro, junto à porta, um busto romano dá-nos as boas vindas. Ou seja, é um dos muitos achados arqueológicos que o museu expõe.  Mais à frente, uma brilhante custódia ocupa lugar de destaque. Ar avançarmos em direção ao altar, vemo-nos rodeados por talha dourada e mármore trabalhado. Revestem as paredes e enchem-nos o olhar. Um testemunho do opulento investimento feito pelos patronos, e pelas freiras que aqui habitaram.

PEÇAS EMBLEMÁTICAS DO MUSEU REGIONAL RAINHA D. LEONOR 

Seguimos então para o antigo convento, anexo à igreja, hoje transformado no Museu Regional de Beja Rainha D. Leonor. O claustro, que dá acesso às restantes salas, é revestido a azulejos de inspiração árabe. Muito em voga na altura, como substitutos das tapeçarias, vieram de Sevilha na década de 1460.

Assim, no piso térreo do museu, encontramos a azulejaria e os mármores trabalhados, mas também coleções de pintura flamenga do século XVII e quadros portugueses do século XVIII.

Um dos ex libris deste Museu é uma de três pinturas Ecce Uomo que temos em Portugal. Representa o episódio relatado no Evangelho de S. João, em que Cristo é apresentado, flagelado, perante Pôncio Pilatos. As duas outras existentes encontram-se no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, e no Convento de Jesus, em Setúbal. Destaca-se ainda como ex libris do museu a coleção de pinturas de Josefa de Óbidos.

Ao continuar a visita, suba ao piso superior. Neste patamar, vai encontrar uma importante coleção de arqueologia, sobretudo do período romano. Mais do que isso, vai descobrir a famosa janela de Mértola, protagonista da história de amor que teve lugar neste convento. Leia a história mais à frente.

DA FUNDAÇÃO AO DECLÍNIO  

Tal como outros espaços de Beja, o convento de Nossa Senhora da Conceição foi fundado pelos poderosos Infantes D. Fernando (1433-1470) e D. Beatriz (1430?-1506). Também conhecida como D. Brites, como se dizia na altura.

Com efeito, os Infantes viveram em Beja, no século XV. Entre outras obras, mandaram construir o Convento que hoje alberga o museu, e que era contíguo ao palácio que habitavam. No entanto, o palácio foi demolido em 1895, e hoje apenas resta parte do convento. Ou seja, aquilo que podemos visitar: a igreja, os claustros e a sala do capítulo.

Quando foi inaugurado, em 1459, o Convento de Nossa Senhora da Conceição acolheu freiras da Ordem de Santa Clara, ou Clarissas. Era, portanto, um convento de clausura. Nessa condição, as freiras não podiam sair, e o único contacto com o mundo exterior era através de uma grade.

No início, o convento acolhia pouco mais de uma dezena de freiras. No entanto, chegou a ter cerca de 150. Sendo um convento ligado à casa real, muitas das freiras que acolhia pertenciam à elite das famílias da região. Em regra, aqui ingressavam as filhas mais novas, que não eram destinadas ao casamento ou a herdar património. Ainda assim, quando entravam no convento, traziam consigo um dote, em sinal do seu casamento com Cristo.

A FREIRA APAIXONADA QUE SE TORNOU FAMOSA EM FRANÇA

Outro dos atrativos do antigo convento, atual Museu Rainha D. Leonor, é o facto de aqui ter professado e vivido Mariana Alcoforado. Depois da irmã Lúcia, é talvez a freira portuguesa mais conhecida do mundo. Afinal, foi protagonista de uma das mais conhecidas histórias de amor portuguesas. 

Pintura de Mariana Alcoforado

Mariana Alcoforado

Com efeito, Soror (irmã) Mariana Alcoforado tornou-se famosa aquém e além fronteiras ​pelas cartas de amor que escreveu. Estas eram dirigidas a um jovem oficial francês, que aqui estava colocado. Naquela altura, decorria a Guerra da Restauração da Independência de Portugal.

As «Cartas Portuguesas», ​assim se chama a obra que compilou as missivas da jovem, foram ​publicadas originalmente em França​ em 1669​. Nessa altura, a sua autora ainda era viva.

Mas afinal, como é que uma freira de Beja vê as suas cartas de amor publicadas em França, no século XVII?

UMA DAS MAIS ROMÂNTICAS HISTÓRIAS DE AMOR PORTUGUESAS

A jovem Mariana Alcoforado nasceu em Beja a 22 de abril de 1640. Ainda criança, ingressou no Convento de Nossa Senhora da Conceição, tinha apenas 11 anos. O pai, um nobre da cidade, mandou fazer aposentos para a filha, que aqui viveu com conforto, de acordo com a sua condição social. Na prática, a apenas algumas ruas de distância da casa de família.  

Dos aposentos originais de Mariana, numa ala do convento entretanto demolida, resta a bonita Janela de Mértola, hoje no piso superior do Museu Rainha D. Leonor. Um dos grandes atrativos do Museu.

Janela de Mértola

Janela de Mértola

Apesar dos aposentos e das criadas, Mariana vivia em clausura, com pouco contacto com o mundo exterior. No entanto, isso não a impediu de se apaixonar pelo jovem capitão francês Noël Bouton, Marquês de Chamilly.

Mariana via-o a passar da janela, encantada, e viria a conhecê-lo por intermédio do irmão. Baltazar Alcoforado, que era seu camarada na frente de batalha.

Na altura, franceses e portugueses combatiam, aliados, contra a coroa espanhola que invadira o país nas guerras que viriam a restaurar a independência de Portugal.

A paixão entre a jovem freira e o nobre francês não tarda a surgir. De início, o contacto fazia-se através das grades do locutório, e por carta.

Contudo, de acordo com o que Mariana escreveu, esta paixão acabou por ser consumada. Não obstante, uma vez descoberta, o francês foi obrigado a regressar a casa e aos seus deveres de Marquês de Chamilly.

As «Cartas Portuguesas»

Pintura de Noël Bouton de Chamilly

Noël Bouton de Chamilly

É quando regressa a França que Mariana lhe escreve e envia as célebres cartas, através de um amigo, do exército francês.  As cartas originais nunca vieram a público, mas em 1669 surgiu uma compilação em livro, por uma editora parisiense. Mariana ainda era viva.

Depois de uma paixão inconsequente na juventude, e de uma vida inteira o convento, Mariana Alcoforado veio a falecer com 83 anos de idade.

Enquanto viveu no Convento de Nossa Senhora da Conceição, hoje Museu Rainha D. Leonor, ingressou também no mesmo convento a sua irmã mais nova, Catarina, que professou em 1660. Mais tarde, com a morte da mãe, entrou ainda a irmã Peregrina, com apenas 3 anos, tendo esta sido criada por Mariana.

As «Cartas portuguesas» não conseguiram fazer regressar o coração do jovem francês, mas garantiram à freira um lugar na história da literatura romântica internacional. E ao Museu Rainha D. Leonor uma aura de romantismo sem par, em todo o Alentejo.

RESERVE A SUA ESTADIA

A RICA HERANÇA DOS INFANTES D. FERNANDO E D. BEATRIZ

Infante D. Fernando_ (1678), Museu Regional de Beja

Infante D. Fernando_ (1678), Museu Regional de Beja

Os dotes e doações das famílias ricas da região, a par do patrocínio dos Infantes D. Fernando e D. Beatriz, fizeram do Convento da Conceição um dos mais ricos do país.

Infanta D. Beatriz (1678) Museu Regional de Beja

Infanta D. Beatriz (1678) Museu Regional de Beja

A riqueza de quem aqui entrava está ainda hoje patente nos objetos de devoção que dividiam as freiras em duas fações rivais: as que adoravam S. João Batista e as que preferiam S. João Evangelista.

Deste modo, as freiras investiam em ricas obras de devoção ao seu santo de eleição, e rivalizavam em esplendor. Tais riquezas eram ostentadas tanto nos altares como nos andores que saíam à rua em procissão. Enquanto isso, as religiosas aguardavam em ânsias, para saber qual deles tinha tido mais seguidores.

Uma família real que marcou a História de Portugal

Aquando da sua morte em 1506, D. Beatriz deixa muitos bens ao convento e vários membros associados à sua casa fazem o mesmo, em doações testamentárias em troca da salvação da alma.

A Infanta está sepultada aqui, por sua própria vontade, numa modesta campa rasa. Ela que foi Duquesa de Beja e de Viseu, e que durante cinco décadas foi uma das mulheres mais influentes da Península Ibérica. Neta de D. João I, bisneta de D. Nuno Álvares Pereira, o poderoso Condestável. tia da rainha Isabel de Castela, a Católica. Pelas suas relações familiares, inteligência e longevidade, foi uma das mulheres mais poderosas da História de Portugal. 

Túmulo de D. Beatriz

Túmulo de D. Beatriz

Dos seus nove filhos, dois foram assassinados, mas outros dois ascenderam ao trono. Foram eles D. Leonor, nascida em Beja, que se tornou esposa do futuro rei D. João II. Tal como a mãe, D. Leonor foi também uma mulher influente, fundadora de uma obra de solidariedade única, que ainda hoje faz a diferença na vida de milhares de portugueses: a Santa Casa da Misericórdia.

O outro filho de D. Brites que ascendeu ao trono foi o mais novo, D. Manuel I. Herdou o trono do cunhado D. João II, aquando da sua morte, e deu continuidade à expansão marítima pelo mundo, que fez dos portugueses pioneiros da Globalização. Como reflexo dessa Era, deixou como legado um estilo arquitetónico muito próprio, o estilo manuelino. 

D. Brites, a Infanta que tanto acarinhou Beja, foi também a única mulher a assumir o cargo de Governadora da Ordem de Cristo​, a sucessora dos Templários​.

O FIM DO CONVENTO E O INÍCIO DO MUSEU

A partir de meados do século XVIII, após a extinção das Ordens Religiosas, o número de freiras do Convento da Conceição começou a declinar. Quando morreu a última freira, em 1891, o Paço dos Infantes foi desmantelado. O mesmo aconteceu à sacristia, ao refeitório e aos dormitórios do convento.Foto antiga do convento da Conceição Na altura, pretendia-se ganhar espaço para a cidade que estava em desenvolvimento.

No entanto, chegou até nós um registo fotográfico que permite observar como era o convento, quando ainda estava completo.

Hoje em dia, do ponto de vista exterior, apenas uma das fachadas do antigo convento é a original, ostentando ainda os brasões dos infantes seus fundadores.

Em 1927, o convento passou a albergar o Museu Regional de Beja, ou Museu Rainha D. Leonor. Uma homenagem à filha dos Infantes que fundaram este espaço, e que fizeram dele um dos mais importantes do país.

SHOPPING

  • Morada: Largo da Conceição, Beja.

  • Horário:: terça-feira a domingo das 9:30h às 12:30h – 14h às 17:15h, encerra segundas-feiras e feriados.

  • Preço: 2 euros. Gratuito ao domingo.

  • Acessibilidade: O piso térreo é acessível, mas o piso de cima não.

  • Contactos:  284 323 351 / geral@museudebeja.pt

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