Cava de Viriato, Viseu
UM MISTÉRIO DA ARQUEOLOGIA NACIONAL
A Cava de Viriato é um dos símbolos da cidade de Viseu. A par disso, é também um dos espaços verdes da cidade. Por ser tão grande, à primeira vista não percebemos que se trata de um recinto, delimitado por um elevado talude de terra. Por isso, hoje é um dos espaços verdes da cidade. Contudo, a origem da Cava de Viriato continua a ser um dos grandes mistérios da arqueologia nacional. Apesar disso, estudos recentes colocam uma nova teoria sobre a sua origem.
A ENIGMÁTICA CAVA DE VIRIATO
Na prática, a Cava de Viriato, em Viseu, é o maior monumento nacional. Afinal, a sua área original cobre 38 hectares de terreno.
No entanto, a sua estrutura é visível apenas em parte. Ou seja, vemos uma elevação de terra compactada, que se estende, num circuito fechado, por entre as árvores. Ao centro, e no exterior deste perímetro, o espaço é plano e rebaixado.
Com efeito, na sua forma original, este circuito tem um formato octogonal, cujo interior estava protegido.
Segundo se pensava inicialmente, seria a estrutura defensiva de um acampamento militar. Desta forma, a par do talude em terra, existia ainda um fosso, muros e um sistema hidráulico. A par disso, o abastecimento de água era feito por uma ligação ao rio Paiva.
De facto, embora tenha sido estudada deste o século XVII, não existem certezas sobre a Cava de Viriato.
Justamente, a primeira referência a este invulgar monumento data do século XVII, de Frei Bernardo Brito. Monge erudito, era um amante da História de Portugal. Estudou em Itália, mas regressou à Beira Alta com a missão de redigir uma História de Portugal. Para isso, percorreu o país, em busca de monumentos contemporâneos do início da nacionalidade. Aqui em Viseu, descobriu a Cava e julgou-a uma construção romana, do pretor Caius Negidius.
Ao longo do tempo, a origem permaneceu incerta, colocando-se também a hipótese de ser muçulmana (Vasco Mantas, 2000, Helena Catarino, 2005). Curiosamente, sabe-se que, até ao período medieval, existiu no recinto da Cava uma capela dedicada a São Jorge. No entanto, foi destruída.
De facto, a Cava de Viriato constitui um mistério que se adensa. Desde logo, qual a origem desta estrutura invulgar? Além disso, quem a construiu, e com que finalidade? E porque se situava fora da malha urbana convencional?
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DA PRIMEIRA HIPÓTESE À MAIS RECENTE
Efetivamente, a primeira hipótese sobre este estranho monumento foi a que lhe deu o nome: Cava de Viriato. Em concreto, esta possibilidade de ligação aos Lusitanos foi da autoria de M. Botelho & R. Pereira (1630), e de Henrique das Neves (1893). Posteriormente, seguiram-se as hipóteses sobre a origem romana e árabe.
Nos últimos anos, a Cava de Viriato tem sido alvo de maior investigação. Designadamente, fez-se o mapeamento aéreo e também digital do espaço. A par disso, retiraram-se amostras da sua base, e seguiram para análise. Por conseguinte, os investigadores levantaram uma nova hipótese sobre a Cava de Viriato.
Assim, a tese dos investigadores Manuel Luís Real e Catarina Tente indica que pode ser «uma tentativa abortada de cidade». De modo geral, «a pesquisa sugere que a Cava possa ter sido construída no século X. Ou seja, «provavelmente durante o reinado de Ramiro, em Viseu». Porém, «os dados da arqueologia, até agora obtidos, não são suficientes para se retirar qualquer conclusão definitiva.»
Ainda assim, os investigadores realçam que «a ser verdade o nosso raciocínio, estaremos perante um caso raríssimo de cidadela fóssil.» Em particular, «de tipo áulico, construída em plena Alta Idade Média.» Se assim for, «isto realça o interesse arqueológico e patrimonial do monumento, inclusive no plano internacional.»
Ainda assim, continuamos sem certezas sobre a verdadeira origem da Cava de Viriato. Seja como for, a única certeza que temos é que é um monumento absolutamente invulgar.
UM PASSEIO NA CAVA DE VIRIATO
Além de ser Monumento Nacional desde 1910, a Cava de Viriato é também um dos espaços verdes de Viseu. Inclusivamente, dois dos lados do hexágono original foram alvo de reabilitação em 2001, pela mão do arquiteto Gonçalo Byrne.
Assim, no topo desta longa elevação de terra, existe um trilho que convida a agradáveis passeios. Em linhas gerais, existe um perímetro circular, em forma de octógono, tendo cada um dos lados cerca de 270.
Ou seja, ao todo, para circundarmos esta estrutura, temos mais de dois quilómetros a percorrer. a prática, é uma espécie de muralha de terra, que possivelmente teria tido uma paliçada.
Com vista privilegiada lá do alto, podemos circular entre o verde das árvores. Muitas delas, a avaliar pelo respetivo perímetro, são árvores centenárias. Ainda assim, nenhuma delas testemunhou a origem da misteriosa Cava de Viriato que, há mais de um milénio, continua por desvendar.