Vouzela

Torres medievais, casas brasonadas e doces pastéis

Em pleno concelho de Viseu, Vouzela é uma vila acolhedora.

Mais do que isso, percebemos desde logo que encerra um passado importante. Com efeito, o imponente viaduto e as suas casas brasonadas despertam-nos a curiosidade. Assim como as torres medievais que a rodeiam. Antigamente, eram a residência dos grandes senhores deste território de Lafões. Uma terra rica em minério, e cruzada pelos rios Vouga e Zela.

Acredite, Vouzela é um improvável, mas incrível, destino de férias. 

VOUZELA, «A PRINCESA DE LAFÕES»

A primeira vez que visitámos Vouzela foi apenas por motivos práticos. Afinal, ficava em caminho para as famosas Termas de São Pedro do Sul. Deste modo, escolhemos um alojamento especial, a belíssima Casa Museu, mesmo no centro da vila.

Com efeito, este é um espaço onde o conforto moderno se alia ao bom gosto, à arte e às antiguidades.

Com efeito, a estadia surpreendeu e acabámos por passar mais tempo na vila do que o previsto. Depois disso, regressar. Várias vezes. Porquê? Não faltam bons motivos.

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Inevitavelmente, quando chegamos a Vouzela percebemos logo que é um local especial. Afinal, é impossível não reparar nos edifícios grandiosos, com arquitetura de outras épocas. Desde logo, percebemos que albergaram gente abastada. Quem seriam os grandes senhores de Vouzela? E por que razão encontramos, logo à entrada, um imenso viaduto, com imponentes arcadas?

De facto, a vila conquista-nos desde logo. Em cada esquina, deparamo-nos com pedaços de história. E queremos saber mais.

Intuitivamente, sentimos que Vouzela tem muito para contar. No entanto, pouco nos explica sobre o seu passado. Para o conhecer, foi preciso procurar, ler e ouvir quem sabe. Neste artigo, desvendamos, para si, a essência da «Princesa de Lafões».

DA ORIGEM ABASTADA À MODERNIDADE 

Com efeito, a primeira fonte documental relativa a Vouzella é do século XI. Mais precisamente, uma carta de doação de bens e territórios a um mosteiro.

De facto, um mosteiro fundado aqui pela família doadora. Portanto, desde o início, Vouzela era muito rica. De tal forma que foi sede do vasto concelho de Lafões a partir de 1436, até ao século XVII.

No início do século XX, chegou a Vouzela o comboio. Deste modo, a linha do Vouga atravessava a vila, rumo a norte.

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Locomotiva em exposição em Vouzela

Mais do que isso, entrava em Vouzela de forma grandiosa. Ou seja, através de uma impressionante ponte ferroviária, com 15 arcos de alvenaria. Enquadrada na paisagem verdejante que rodeia o vale, a ponte data de 1913. Lá em baixo, corre o rio Zela que, mais à frente se junta ao Vouga.

No entanto, o volume de passageiros diminuiu ao longo do tempo. Assim, o comboio deixou de circular em 1990. Que destino dar à bonita ponte que atravessa o vale? Felizmente, a autarquia decidiu bem, e transformou-a num trilho pedonal. Lá de cima, a vista panorâmica é simplesmente espetacular.

Apesar de tudo, a vila não esqueceu o comboio. Por isso, uma antiga locomotiva recorda o passado, mesmo junto ao final da ponte.

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IGREJAS COM LONGA HISTÓRIA

Mesmo ali ao lado, encontramos a igreja Matriz de Vouzela. Data do século XIII, e tem estilo gótico. No entanto, a sua torre sineira não integra o edifício principal. De forma original, situa-se num bloco à parte, paralela à fachada.

Além da Igreja Matriz, encontramos outra igreja belíssima ali bem perto. É a Igreja da Misericórdia, e é fácil de reconhecer, porque a sua fachada está coberta de azulejo. Data do século XVII, em estilo barroco. Entre os tons de azul e branco da fachada, encaixa-se um pequeno nicho, e uma imagem de Nossa Senhora.

No entanto, o património religioso de Vouzela não fica por aqui. Assim sendo, desça a rua, e vire à sua esquerda. Vai ter à praça Conselheiro Morais de Carvalho, com uma estátua do próprio. Afinal, era um homem da terra. Viveu no século XIX e notabilizou-se como advogado e político.

Chegou a emigrar, mas regressou a Portugal e fez uma carreira notável. Foi deputado, presidente da Câmara Municipal de Lisboa e conselheiro do Tribunal de Contas. Além disso, foi Governador Civil de Lisboa e Ministro do reino.

Ali ao lado, está uma capela que celebra outra ilustre figura local. Como não podia deixar de ser, a capela de São Frei Gil é uma igreja com história. Construída no final do século XVI, celebra um santo cá da terra. Frade dominicano, São Frei Gil viveu entre os séculos XII e XIII. Estudou em Coimbra e Paris, e notabilizou-se como médico e pregador. Foi canonizado no século XVIII, e é o santo padroeiro de Vouzela.

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UM DOS SEGREDOS MAIS DOCES DA BEIRA ALTA

Recheio dos Pastéis de Vouzela Nesta mesma praça, aproveite para se sentar na esplanada e pedir um pastel de Vouzela. Também os encontra em outros estabelecimentos, basta perguntar a alguém.

Com efeito, este é um dos segredos mais bem guardados da Beira Alta. Os pastéis de Vouzela são simplesmente deliciosos. Ainda por cima, praticamente só se encontram nesta região.

Em formato retangular, o pastel de Vouzela tem no interior um doce de ovos. No exterior, uma massa muito fina e delicada, polvilhada de açúcar. Na verdade, a receita permanece secreta, até hoje. Sabe-se que o pastel de Vouzela já era confecionado no início do século XX. Deste modo, é produzido por um conjunto restrito de famílias locais, de forma artesanal.

EDIFÍCIOS GRANDIOSOS COM SÉCULOS DE HISTÓRIA

Com efeito, esta é uma região rica em recursos naturais. Por isso, gerou a riqueza em muitas famílias. Inevitavelmente, a arquitetura traduz esta riqueza. Tanto nos edifícios públicos como nos particulares.

Um dos que mais chamam a atenção é a atual Biblioteca Municipal. Na sua fachada clássica, destaca-se a grande entrada em arco, que dá acesso ao Largo Conde Ferreira.

Construído em 1639, foi originalmente um solar de habitação. Contudo, no século XIX, o Conselheiro Morais de Carvalho comprou o edifício. Em seguida, vendeu-o à autarquia, que o converteu nos Paços do Concelho.

Neste largo, que tem o nome do Conselheiro, destaca-se o Museu Municipal de Vouzela. Um edifício do século XVIII, que no passado foi o tribunal. Por cima da porta, ostenta o mais antigo brasão da antiga região de Lafões. A par disso, podemos ainda ver o nicho onde tocava o sino das audiências. Com efeito, este é um museu interessante, com um espólio muito variado sobre o passado local.

UMA FAMÍLIA APAGADA DO REINO

Com efeito, são muitos os solares que compõem a vila de Vouzela. Entre eles, o de uma ilustre família que se tornou famosa pelas piores razões. A família Távora.

No século XVIII, o rei D. José foi vítima de um atentado, após um encontro amoroso clandestino. A amante era casada, e pertencia à nobre família Távora. Deste modo, a acusação acabou por recair sobre esta poderosa família.

Apesar das dúvidas e irregularidades do processo, o julgamento foi implacável. A conspiração contra o rei recaiu sobre os Távoras. Assim sendo, a sentença condenou boa parte da família e seguiu-se um suplício, em praça pública. Aconteceu em Belém, Lisboa, a 13 de janeiro de 1759. Mais do que isso, os bens dos Távora foram confiscados e o seu brasão banido, por todo o reino.

Em Vouzela, existe uma das propriedades dos Távora. É uma construção quinhentista, e situa-se na rua de São Frei Gil. Ou seja, a que desce da Praça Conselheiro Morais de Carvalho para o rio. De facto, conforme podemos ver, o brasão está liso. Foi apagado da pedra.

Brasão dos Távora apagado

Brasão dos Távora apagado

Casa da família Távora em Vouzela

Casa da família Távora em Vouzela

MUITO MAIS PARA DESCOBRIR EM VOUZELA…

Antes de mais, é preciso realçar a localização estratégica de Vouzela. Desde a época romana, aqui se cruzavam várias estradas. Bem entendido, das poucas que existiam na altura.

Felizmente, ainda hoje encontramos alguns troços preservados. Uma delas, a via romana do Vau. Ou seja, entre Vouzela e São Pedro do Sul, na margem esquerda do rio Vouga.

Recentemente, em 2018, as lajes desta calçada foram limpas e expostas a quem as quiser percorrer. Originalmente, esta via romana ligava Vouzela às termas de São Pedro do Sul e a Águeda.

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A par disso, encontramos outra via romana em Fataunços. Ligava Viseu ao litoral, e ainda hoje é usada pelas populações locais. Com 3 a 4 metros de largura, integra ainda diversos afloramentos de granito. Portanto, estamos perante cerca de dois mil anos de história. Para a percorrer, siga as indicações do PR7 – Percurso das Poldras.

Durante a época medieval, Vouzela manteve o seu estatuto de ponto de paragem privilegiado. Por aqui, tanto circularam nobres a caminho das cortes de Lamego, como almocreves, com as suas mercadorias.

…E NOS ARREDORES. 

Hoje em dia, continua a ser um local privilegiado. Já não pelas estradas, mas para passar uns dias de descanso estupendos. Afinal, há tanto para ver, percorrer e, claro, comer. Além dos pastéis de que já falámos, procure a Sopa Seca, a vitela à Lafões ou ainda o Folar de Vouzela.

De igual forma, nos arredores, vale a pena descobrir o Parque de Campismo de Vouzela. Situa-se na encosta da montanha, e é um eco-parque de 4 estrelas. Mais acima, ali perto, há a capela com miradouro da Senhora do Castelo. Infelizmente, o castelo já não existe. No entanto, permanece o santuário, e a sua vista simplesmente extraordinária.

Ainda nesta região, descubra as praias fluviais dos arredores, ideais para se refrescar no verão. A par disso, surpreenda-se com a Reserva Botânica do Cambarinho, em Campia. Por outro lado, existem ainda as três torres medievais do concelho de Vouzela. Nos séculos XII e XIII, os grandes senhores viviam nestas construções robustas. Deste modo, encontramo-las em Alcofra, Cambra e Vilharigues.

Além de tudo isto, a autarquia convida ainda os visitantes a percorrerem a Rota do Megalitismo de Vouzela. Afinal, não faltam mamoas, dólmenes e necrópoles nesta região. Datam do Neolítico e da Idade do Bronze. Desta forma, com o percurso traçado pela autarquia de Vouzela, pode conhecer este património milenar, num passeio de carro.

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